quarta-feira, dezembro 09, 2015

5 anos

Há cinco anos, pelas 19 horas, a minha mãe morria. De súbito e de vez, sem falsos alarmes nem degradação lenta. Sei-o pelo que encontrei no local do óbito: computadores desligados, apenas a luz junto à saída acesa e uma única cadeira chegada atrás, a que ficava mais perto da porta. Nela posou, com atabalhoada urgência, o casaco e a mala para ir aos lavabos. Sei-o. Sabia-o durante os 45 minutos que passei de olhos presos à luz paralisada na frincha desde a ranhura da caixa do correio a aguardar a chegada da colega ao escritório, uma garagem térrea adaptada. Quando já não precisava de ser um envelope para franquear a porta e corri a libertar a luz arauta, vi-a contorcida sobre a cerâmica, olhos esbugalhados revirados, a boca num esgar de dentes partidos, um ânus de treva. A ela, a minha mãe. Percebi a intensidade da convulsão que a atravessou de uma ponta à outra e que tomou o seu tempo, quem sabe quantos segundos, minutos.
Até aí, o único horror que conheci foi o medo dos homens.

Nenhum comentário: